Um dos aspectos que sempre me chamam atenção na obra de Jane Austen é o nível de consciência das heroínas, especialmente Elizabeth Bennet e Anne Eliot.
Elas percebem as coisas que acontecem, analisam, refletem e avaliam (nem sempre acertam) os próprios comportamentos e sentimentos.
Tudo me parece sempre muito delicado e intenso.
Hoje, é comum que se dissocie intensidade e coragem de delicadeza e tranquilidade.
Para ser intenso, determinado, corajoso, não é preciso fazer barulho ou escândalo.
A intensidade dos personagens que têm uma personalidade mais bem desenvolvida não está no barulho, no escândalo, na afetação.
E talvez, justamente por conta da delicadeza, é que se sinta a intensidade. O barulho e a agitação causam ruídos que na maior parte das vezes impedem a gente de enxergar ou de sentir com intensidade.
Um gesto sutil, mas carregado de sentimento, diz muito, e corre o risco de passar despercebido mediante um ruído persistente.
Não é à toa que as personagens mais “afetadas” não percebem nem a metade das coisas que as circundam.
Não há como desenvolver a consciência se cobrindo de tumulto. Elas estão fazendo muito barulho por nada.
Em um mundo em que ninguém mais suporta encontrar o espelho, em que tudo precisa ser eufórico, estimulante e acelerado, Jane Austen não poderia ser mais relevante.
Ler Jane Austen. Pensar Jane Austen.
Delicadeza, calma e silêncio não são sinônimos de fragilidade.
E sutileza para olhar para as coisas é fundamental. Com pressa e com exagerada impulsividade pode não funcionar.
Talvez por isso tanta gente ande se perdendo. Compreender e assimilar sentimentos demanda tempo e cuidado.
Como bem disse Virginia Woolf:
Ela não precisa levantar a voz. Cada sílaba chega de maneira bastante distinta pelos portões do tempo.